quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

O medo de Alcaçuz


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O medo de Alcaçuz
PDF 834


Passado o momento que podemos denominar como auge dos acontecimentos no presídio de Alcaçuz, chega o medo estampado por atos e ideias das autoridades. O medo daqueles quem tem um poder e um compromisso com a sociedade. Não encaram o problema de frente, mostrando que podem ser capazes de reverter e corrigir problemas. Não demostram que possuem um pulso forte, pois podem mostrar suas falhas e fraquezas.


A sociedade, as cidades do entorno do presídio já tiveram no auge do medo, do desespero e do inimaginável. E não pretendem ou desejam que tudo aconteça novamente, e o perigo eminente, seja maior do que aquele vivenciado. Um medo oculto que não se tem a certeza que algo vai chegar, e acontecer, e por que lado ele vem, ou vai embora. O medo de ter sua vidas em riscos e seus patrimônios lesados ou subtraídos. O medo do que possa ser sequestrado: tempo, amigos ou parentes; valores e bens diversos, imóveis, móveis e automóveis.


E os políticos se posicionam com uma ideia decisiva, permitem-se ser os salvadores da pátria. Com a  decisão que julgam ser lógica e alvissareira. Os transformadores dos homens e da sociedade; o limite do bem e do mal. O que não serve a sociedade, eles prontamente estão dispostos a jogar fora. Prontos para construir um modelo moderno, avançado na engenharia e na sociologia. Não medem esforços para gastar o dinheiro do povo, com argumento de executivos e legisladores. Reunidos em espaços fechados e reservados, trazem para ruas e para as telas, suas ideias mirabolantes. E se preciso for (seus grandes argumentos), vão buscar tecnologia denominada avançada em outro país, ignorando e desprezando a engenharia nacional, alegando que outros podem ter mais experiência. Excluem inclusive os apenados que poderiam ser mão de obra, ocupando suas mãos e mentes, e amenizando suas penas. Um caminho para a tão falada ressocialização.


E com um comportamento anunciado, um comportamento esperado, querem acabar com o que restou em Alcaçuz, seja por parte do governo estadual ou federal, as ideias caminham para uma direção, apagar acontecimentos e tirar Alcaçuz da história, para que não fique na mente, e outros episódios aconteçam. Apagar as supostas provas e possibilidades de descobrir outras linhas de raciocínio ou de pensamento. Fatos semelhantes já aconteceram na história. E as tragédias já estavam anunciadas.


Ilha Grande no Rio de Janeiro, hoje é atração turística, mas também já foi presídio. Fernando de Noronha já foi esquecido na história, hoje é recanto paradisíaco, nem lembramos que já foi presídio. No Rio de Janeiro, ainda tem a ilha das Cobras, Continua ocupada pela Marinha, talvez ainda exista um presídio naval, como símbolo histórico ou para detenções no quartel. Terminaram com presídios em ilhas, postergando os problemas. Hoje ainda falam que um presídio em uma ilha, em uma plataforma ou em navios seria uma solução.  


E coisas semelhantes aconteceram em terra. O mesmo se deu com o presídio Frei Caneca no Rio de Janeiro e o presídio do Carandiru em São Paulo. Foram transformados em novos espaços. Palcos de tragédias e fugas cinematográficas. Bombas colocadas em locais estratégicos e calculados, colocaram os edifícios no chão, restando escombros a serem removidos. Uma questão de minutos de espera, e segundos para o prédio sumir da paisagem. A poeira domina o ar por alguns momentos. E então a oportunidade de passar a vassoura no chão e a borracha na história.


Não querem deixar pedra sobre pedra, tijolo sobre tijolo. Querem que entulhos e metralhas do prédio a ser destruído, se confundam com as as areias de Nísia Floresta/RN. Tentam estratégias temporárias de usar contêineres como jaulas. Mas não se atrevem a entrar em um contêiner, com o Sol marcando seu auge.


Outros fatos semelhantes aconteceram na história, para apagar uma memória.  Excluir possíveis provas de que algo aconteceu e existiu. Ao final da Guerra de Canudos, o arraial foi destruído. Depois de uma chuva de balas e de bombas, o arraial de Antônio Conselheiro foi incendiado pelas forças militares que estavam presentes no local dos combates. Findada a guerra, retirada as tropas, uma represa foi construída inundando todo  o vale. E cem anos depois durante um período de seca, a torre da igreja começou a surgir. O o episódio já estava esquecido, mas registrado em livros, contando a história dos vencedores. A aparição do torre da igreja, não foi em vão, foi para mostrar a história dos mortos.


Novos presídios são construídos com categorias de segurança máxima. Mas a segurança máxima também precisa estar do lado de fora. Aprisionando ideias absurdas que só transferem os problemas para um tempo distante, ou mais adiante, que requer novas instalações e novas regras, novos investimentos e novos financiamentos. Ter um presídio pode ser um bom negócio. Mas ainda é melhor que não seja privatizado. A privatização gera lucro, e pode ser preciso muitos insumos. E na falta de presos, podem aumentar o ramo de delitos, gerando mercadoria para abastecer os presídios.



#BLOGdoMaracajá.jpgO medo de Alcaçuz
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Roberto Cardoso (Maracajá)
Jornalista Científico
Membro Efetivo do IHGRN (Instituto Histórico e Geográfico do RN)
Membro efetivo do INRG (Instituto Norte Riograndense de Genealogia)


Em 02/02/2017

Texto enviado para NOVO Jornal - Natal/RN

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